Se existe alguma coisa que me dedico é ao esporte. Adoro esporte. Posso dormir tarde, mas pela manhã acordo cedo para treinar. A vontade de ir treinar é mais forte que a vontade de continuar a dormir mais duas horas até a hora de ir trabalhar. É um prazer enorme e não uma obrigação diária. É uma satisfação e não uma rotina a ser cumprida somente.
Lembro de setembro de 2015. Lembro muito bem deste mês. Estava treinando para uma meia maratona quando o nervo da minha lombar foi “levemente pinçado”. Eu tenho escoliose, e até o momento em que escrevia este texto (dezembro de 2016), eu tinha quatro protusões discais, das quais uma delas podia pinçar o nervo da lombar. Foi exatamente o que aconteceu. Fiquei de “molho” por um mês, exatamente. Nos primeiros dias, ia pro trabalho andando lentamente, e não podia executar nenhuma atividade braçal simples e nem tampouco pensar em qualquer atividade física.
Na época, fazia academia, corria, nadava, andava de skate, andava de stand up paddle, alem de ir para o trabalho todos os dias de bicicleta. Além disso, como bombeiro guarda-vidas, o trabalho me exigia regularmente condicionamento físico. Eu estava habituado a me dedicar ao esporte sempre, mas estava sendo obrigado a fazer praticamente nenhuma atividade até me recuperar totalmente.
A mudança foi muito drástica. Como me dedicava diariamente a isso, foi horrível. Não conseguia dormir, pois me sentia com energia acumulada toda a noite em que me deitava. Minha esposa teve que agüentar meu humor horrível e minhas reclamações de dor e de chatice até ficar bom. Após muito alongamento, fisioterapia, pilates e acupuntura fiquei melhor. Não me curei, pois não tem cura, mas estou melhor. No momento em que escrevo este texto estou me dedicando ainda mais ao esporte, mas de forma correta, fortalecendo primeiro a musculatura, para evitar novas lesões.
Aí você me pergunta: – E aí? O que isso tem haver com “amor de irmão”?
Tudo haver. Nem sempre aquilo em que dedicamos nosso tempo e suor nos trará somente alegria e satisfação. Haverá momentos de dor e de frustração, onde poderá levar você a querer jogar tudo pro alto e abandonar seus propósitos.
Por isso que você precisa de amor. Isso mesmo, de amor.
Somente o amor vence as dores e frustrações.
Hoje em dia vivemos uma sociedade egoísta e individualista, que somente pensa em si mesma e em mais ninguém, e não importa o que tenha que fazer ou deixar de fazer, não importa quem magoar, o importante é estarmos bem fazendo aquilo que gostamos de fazer, ocupando todo o nosso tempo com tudo aquilo que nos satisfaz.
Se alguém tentar atrapalhar este nosso estado de espírito; se alguma dor alguém ao menos tentar nos causar que faça mudar nosso “status” de satisfação para insatisfação, a gente passa o “trator” por cima desta pessoa e prosseguimos em nossa rotina de individualismo e egocentrismo diário.
Isso realmente não é amor.
Você neste momento deve estar pensando: o que tem haver dor na lombar com amor e egoísmo?
O verdadeiro amor não se deixa abater pelas circunstâncias da vida. Você jamais pode desistir das pessoas ao seu redor e viver um isolamento. Você não pode permitir que os relacionamentos reais imitem os virtuais, onde podemos “deletar” as pessoas quando elas nos decepcionarem, frustrarem; causarem dor.
Não acredite na filosofia das ruas que ensina que o que está em primeiro lugar é você (e somente você), que para tal, você deve colocar suas necessidades e anseios pessoais antes de tudo e acima de tudo, não importando o que tenha que fazer para satisfazê-las. Não devo e não posso sofrer por ninguém e por nada.
O amor verdadeiro é o contrário, ele ultrapassa tudo isso, até mesmo nossas aspirações, mesmo que doa mais que a dor da minha lombar pinçada a dor que alguém possa ter feito a você. Você deve perdoá-lo e amá-lo acima disso, não descartá-lo como um objeto sem valor, pois Deus nos formou para nos relacionar e amar de verdade, assim como Ele nos ama de verdade.
Acima de Sua própria vontade (Lucas 22.42), Jesus mesmo sofrendo a dor do abandono (Mateus 15.34), dos acoites (João 19.1), da cruz (Mateus 27.32-56), da morte (João 19.30) por minha e sua causa, continuou nos perdoando e amando um amor puro e sem magoas.
Você deve caminhar junto, unido, e se doar em prol do outro, assim como Jesus faz.
Isso tem nome. Esse amor tem nome: é comunhão!
O reflexo de nosso relacionamento com Deus será o reflexo de nosso relacionamento com as pessoas.
Se você se diz cristão, mas não perdoa, ouve, sensibiliza e ama seu irmão, algo está errado. Se você se diz intimo de Jesus e não quer, não pode, não tem tempo para estar próximo das pessoas, você pode não estar tão intimo de Jesus o quanto você acredita, porque o reflexo de nosso relacionamento com as pessoas será o reflexo de nosso relacionamento com Deus.
Se não nos relacionamos bem com as pessoas, se não estamos próximos das pessoas, se não deixamos nossas vontades de lado pelas pessoas, se não fazemos nada quando devemos agir em prol das pessoas, se não queremos intimidade com as pessoas, se as dores causadas nos fazem afastar ao invés de aproximar, realmente não estamos indo bem com nosso relacionamento com Deus.
Deus criou você e eu para um relacionamento íntimo com Ele, e isso deve se refletir da nossa vida para com a vida das pessoas ao nosso redor. Não devemos andar sozinhos nessa vida, devemos desfrutar da verdadeira comunhão, do verdadeiro amor: o amor que reflete no irmão.
Mesmo que após muita dedicação a dor apareça e nos queira fazer desanimar das pessoas, não se isole, não perca mais tempo, pois como eu e você poderíamos de outra maneira aprender a perdoar e amar como Deus nos perdoa e ama se não fosse dessa forma?
Você tem se unido com outras pessoas para conviver, apoiar, aprender e servir? Não espere pelo outro, não dê desculpas, seja menos “eu” e mais “os outros”.
Envolva-se e dedique-se a fortalecer seus laços de amizade diariamente, pois por intermédio do amor que vem de Deus, sua musculatura será restaurada para suprimir as dores do passado, pois mesmo que venham novas dores não terão a mesma força que antes. O amor supera a dor.
“O meu mandamento é este: Amem-se uns aos outros como eu os amei” (João 15.12), “pois o amor procede de Deus. Aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1 João 4.7-8). “Portanto, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito.” (Colossenses 3.12-14)
Paulo Sérgio – Vocalista